BALADA Nº 4 - OBRIGADO POR TUDO, 'MAGRO DE AÇO!'.

Por Luis Carlos Coutinho

Mais uma bela história de amor chega ao fim neste dia 04 de dezembro de 2011. As pernas cansadas, o fôlego curto, o sorriso  caleijado já não permitem seguir em frente, não dentro de um sonho que originou uma das mais emocionantes sagas de um herói do sertão. De suas passadas ignoradas pela vasta vegetação do Cariri, em outros tempos, às mais largas passadas no verde de um Maracanã, em tarde de Fla-Flu ou de um Engenhão frenético de ardor. O sonho acabou. Já não veremos mais aquele soco no ar, aquela lágrima tímida correndo pro abraço, aquele olhar sofrido de uma infância dolorosa, aliviada com o peso da fama que carregou, aqueles berros de José Carlos Araújo pela Rádio Globo, ou de Luiz Penido pela Super Tupi, ao invadir de um gostinho transcendental nossas veias com um grito de gol, aquelas serenas e humildes palavras que dificilmente alguém repetirá. Foi-se um tempo de magia, do puro envolvimento da raça nordestina com o charme carioca, fusão perfeita ao amor que eclodiu na inesquecível década de 2000. É duro saber que tudo um dia acaba e que a idade chega para todos. E pensar que, há dois anos atrás seu nome era consagrado nos quatro cantos do Brasil, para hoje nem sequer um reconhecimento público merecer...

Ronaldo Angelim se despede do Clube de Regatas Flamengo, sua fantasia e seu sonho realizado, como ele mesmo dizia: "minha maior vaidade é ver o Flamengo ganhar", um privilégio para poucos mortais, uma saga que será dificil uma reprise, levando em conta as adversidades que se apresentam hoje. Em seis anos de matrimônio com a realidade que sempre desejou, títulos (Copa do Brasil 2006 - Carioca 2007/2008/2009 e 2011 - Brasileiro 2009), inclusive de Herói do Hexa e uma identidade que orgulha a todos aqueles que conheceram o 'Magro de Aço', sua sinceridade ao pedir pra não jogar, ao admitir o cansaço, até mesmo provocar a admiração inimaginável de um ilistre vascaíno: seu pai, Tota. Duvido que neste século algum outro filho de Porteiras terá sorte igual. 

Por tudo o que representou e representará pelo resto da história do Flamengo e sua legião de apaixonados, simbiose tida como religião, resta apenas um sonoro OBRIGADO ANGELIM!

Receba, como homenagem final, essa canção de Moacir Franco, feita para um outro imortal do futebol.

Sua ilusão entra em campo no estádio vazio,
Uma torcida de sonhos aplaude talvez,
O velho atleta recorda as jogadas felizes,
Mata a saudade no peito driblando a emoção.
Hoje outros craques repetem as suas jogadas,
Ainda na rede balança seu último gol,
Mas pela vida impedido parou,
E para sempre o jogo acabou,
Suas pernas cansadas correram pro nada,
E o time do tempo ganhou.
Cadê você, cadê você, você passou,
O que era doce, o que não era se acabou,
Cadê você, cadê você, você passou,
No vídeo tape do sonho, a história gravou.
Ergue os seus braços e corre outra vez no gramado,
Vai tabelando o seu sonho e lembrando o passado,
No campeonato da recordação faz distintivo do seu coração,
Que as jornadas da vida, são bolas de sonho.
Que o craque do tempo chutou.
Cadê você, cadê você, você passou,
O que era doce, o que não era se acabou,
Cadê você, cadê você, você passou,
No vídeo tape do sonho, a história gravou.