CAPITAL ($) DO FUTEBOL. SÓ PRESTA SE FOR PAULISTA?

Por Luis Carlos Coutinho
A velha máxima do “Café com Leite” que impôs sua truculência no sistema político brasileiro desde o surgimento da República, no revezamento São Paulo x Minas Gerais, até que tentou repetir no futebol, mas a migração das grandes empresas à capital dos bandeirantes restringiu esse poderio única e exclusivamente à maior metrópole nacional, a partir daí o Brasil foi tomado pelo vírus do Fascismo da imprensa, uma réplica do que aconteceu na Itália de Mussolini. Os grupos empresariais derramam rios de dinheiro nos meios de comunicação de São Paulo e naturalmente exigem como retorno a publicidade de suas marcas, na maioria das vezes à custa de muita baixaria, o estímulo ao bairrismo, da desclassificação aos demais centros esportivos, do massacre emocional e psicológico aos profissionais que atuam em outras regiões.
O embasamento dessa análise é fácil de constatar: basta ligar o televisor nos programas esportivos da Band (Terceiro Tempo e Jogo Aberto); na TV Gazeta (Mesa Redonda); na Rede TV (Bola na Rede); na rota narcisista da MTV e concluir. Autodenominando-se âncoras, jornalistas canalhas como Flávio Prado, Milton Neves, Juca Kfouri e uma não menos bairrista corriola de comentarista como Neto, Roberto Godoy, Chico Lang, Osmar de Oliveira e tantos outros que até dá náuseas em pronunciar seus nomes, estão escalados 24 horas para atacar todo e qualquer segmento esportivo que se situe além das fronteiras de São Paulo. A lei do ‘quanto pior, melhor’.
“O Ronaldo mais parece um lutador de Sumô que um jogador de futebol. Não vejo fenômeno algum nesse rapaz”, essas palavras, Neto teve que engolir ao saber da ida do craque ao time mais protegido pela imprensa, o seu Corinthians. Hoje Ronaldo é um ‘deus’ na boca de Neto. Com o jogador Adriano, o mesmo comentarista de araque jogava confetes sempre que o Imperador entrava em campo pelo São Paulo, não se cansava de elogiar o caráter do rapaz, mas bastou a eliminação da Libertadores de 2008 pelo Fluminense, para a afiada língua disparar: “o que foi que esse cara já fez pelo São Paulo, pelo Amor de Deus?”. Nada Neto, apenas 17 gols. O jogador se transferiu para o clube mais odiado pela imprensa paulista e no dia de sua apresentação no Flamengo, as palavras do caipira foram: “Adriano não é um bom caráter e não é um dedo de Ronaldo”. Na final da Copa do Brasil de 2008, Sport x Corinthinas protagonizaram um grande espetáculo nas duas partidas e o verborrágico era todo sorriso na virória de seu time sobre os pernambucanos por 3x1 em São Paulo. “Um jogo com cara de Corinthians, desse jeito, mesmo tomando um gol, dificilmente o Time do Mano vai perder esse título, porque o Sport não tem equipe pra reverter”, profetizou Neto, para na outra semana a casa cair com os 2x0 e o titulo rubro-negro na Ilha. Os comentaristas das TVs paulistas não cometam o jogo, comentam o Corinthians em campo, como se não tivesse adversário. Ninguém ganha dos times de lá, eles é que perdem às vezes, de acordo com a imprensa. E o que dizer da novela Adriano este final de ano que não deu certo? Esse é apenas um exemplo que se segue aos demais debatedores da mídia paulistana, que afinal só reconhece a legitimidade de quem veste as cores do Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, Portuguesa, Barueri, Santo André ou até o tímido Ituano. Foi de outro estado, não presta. Quem não lembra do ‘endeusamento’ com Fábio Luciano nos tempos de Corinthians, de Nilmar, hoje quase esquecido por eles, de Kleber do Cruzeiro, de Roger, de Finazzi, de Herrera, de um tal de Zelão até?... Minha nossa! Mas não se surpreenda com uma lista onde mais se encontra ex-corintianos, afinal é o único assunto por lá.  Ninguém lembra do que o Sr. Oscar Godoy fez com o Ceará Sporting Club na final da Copa do Brasil de 1993 contra o Grêmio; Ninguém lembra do titulo nacional do Coringa em 2005, ganho no apito em cima do Internacional; Ninguém lembra do mesmo Internacional campeão do mundo em 2006 em cima do Barcelona... Só existem olhos pro futebol paulista na imprensa vendida.

Quando a briga é caseira, qualquer um que se meter contra o time da mídia se quebra. O São Paulo foi campeão brasileiro absoluto em 2006, mas o destaque nos programas esportivos era a demissão do médico Joaquim Grava pelo Timão. No mesmo ano, o Internacional era campeão do mundo em cima do Barça, mas o roteiro de toda programação esportiva de São Paulo foi a tentativa do time de Parque São Jorge comprar um terreno pra construir seu estádio, num barco furado que o clube entrou com a MSI, assunto mais badalado que o Big Brother. No mesmo ano, o Flamengo conquista a Copa do Brasil em cima do Vasco, em Sampa o assunto era a contusão do Nilmar. Alguém lembra em que time ele jogava? O tema consumiu 03 partes do Mesa Redonda na Gazeta. Em 2007 outra conquista heróica do Tricolor no Brasileirão, mas só havia espaço para a queda do ‘time da imprensa’ pra Segunda Divisão. Em seguida o São Paulo volta a levar a taça nacional, e o assunto? Claro, Corinthians e a chegada de Ronaldo, o tal ‘ex-jogador’ que os paulistas chamavam. Parece piada, mas quem fizer um pequeno esforço percebe. Ufanismo total!
Rivaldo de Pernambuco, Romário, Adriano e Ronaldo do Rio de Janeiro, Ganso do Pará, Conca, D’alessandro da Argentina, Ronaldinho Gaúcho do Rio Grande do Sul. Jamais um jogador paulista foi eleito o melhor do mundo pela FIFA, mas antes que alguém se arrisque a falar o nome do Kaká, fica um recado: o Ricardo Izecson dos Santos nasceu em Brasília. O time de segunda maior torcida no país (mas é claro que Flávio Prado, Neto e Chico Lang é a maior, justamente eles que não tiram o traseiro de uma cadeira pra conhecer o Brasil e sua imensidão). O Coringa é o único ‘campeão do mundo’ que nunca saiu do Brasil. (risos) A faculdade do futebol é o Mundial de Clubes, mas só chega lá quem passa pelo vestibular da Libertadores. Só a CBF, a FIFA e Nike mesmo pra arranjar um “torneiozinho de compadres”, tentando acabar com a peregrinação sem sucesso do protegido e blindado clube. (A César o que é de César, o Timão foi heróico na volta à elite e também na conquista do Paulistão 2009 invicto). E por falar em César, longe de Roma o goleiro da seleção e da Internazzionale da Itália faz milagre em campo defendendo as cores do país, mas é inevitável a comparação com Rogério Ceni, como se Júlio não fosse titular absoluto sem a sombra do outro.
Algumas teses tentam explicar a superproteção ao futebol paulista, que mesmo sendo o maior e mais poderoso centro hoje, não consegue colocar 50 mil pessoas num clássico, como é coisa comum no Rio de Janeiro, na Bahia, em Minas e no Ceará. O alto investimento de empresas como Pirelli, Nike, Batavo, Medial Saúde, LG e Toshiba, sem falar nas jogadas de merchandising da Traffic, engordam as contas bancárias dos pseudo-jornalistas que topam qualquer negócio pra promover seus interesses. Alguém ai sabe quanto Milton Neves fatura com a Traffic, que já tem nome bem sugestivo, inclusive? Alguém imagina quanto Renata Fan descola do grupo Santander? Fica de graça entender agora porque a rede Globo abriu sua bodega em São Paulo e está quase no mesmo ramo de pechincha das outras.

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