BAIXIO - UMA ÉPOCA EM QUE NÃO ESTIVEMOS EM LUGAR NENHUM
Por Luis Carlos Coutinho
Não há na história remota ou recente de Baixio qualquer episódio que se compare aos dramas atuais da falta d’água e a proliferação da dengue. Um (des)caso que não é novo, não provoca qualquer tipo de reação popular a um povo que parece ter se acostumado com o comodismo. É de fazer chorar! Passa de 30 dias o sofrimento dessa gente, humilhada pela concessionária do sistema de abastecimento d’água (quando ele havia), jogada à própria sorte sem ter uma solução prévia ou distante. Simplesmente parece que todos se calaram diante do atraso que vem perseguindo os dias do baixiense. Sem forças para reivindicar, sem amparo nas instâncias maiores, cansado, o pacato povo de Baixio agoniza. Se o problema é antigo, as desculpas vão ao mesmo passo: problema de eletrificação nos poços – bomba com baixa capacidade – escassez de água nos reservatórios... “Conversa pra Boi não dormir”, porque barriga com sede não dá sono nem mesmo nos animais.
A Cagece de Baixio é expert em pretextos, menos em solução, pois em lugar nenhum um abuso como esse seria tolerável sem que provocasse reação popular. Geralmente a força coletiva moveria suspensão no pagamento das tarifas – protesto de rua e na imprensa – voz ativa dos poderes constituídos – pressão por atendimento extra, como carros-pipa, cobrança. Não é o que se vê por aqui. Em toda cidade ocorre problema com o abastecimento, Baixio não é a única ‘privilegiada’ com essa atrocidade, mas o nível de tolerância pra um mês de abandono e silêncio é o cúmulo! Ainda não lavaram as mãos pro povo porque falta água. Outro ápice do massacre é a sensação térmica na região durante esse período, um verdadeiro calor de escaldar os neurônios! Como ficam as escolas? A rotina dos trabalhadores resistirá a tudo isso? Haverá missa e cultos nas igrejas?
E como se não bastasse o calvário de todos os baixienses, tendo que improvisar com carroças – galões pegos em cacimbas – mulheres pelas estradas com silhuetas em latas - jegues remontando a paisagem de ontem... Agora o “castigo veio a cavalo”, pois justamente esses improvisos, somados à estática postura das autoridades municipais trouxe como bônus a temida Dengue que, ao contrário da falta d’água, não era um tema comum em terras de São Francisco. O hospital da cidade está repleto de pessoas internadas com suspeitas e confirmações da doença, funcionários daquela casa de saúde (?) reclamam (ainda que em sigilo por temer represálias) das péssimas condições de trabalho, pois falta material básico e com a escalada assustadora da praga, não tardará faltar leitos para os infectados. O que se vê em todo o panorama nacional são mobilizações e campanhas de conscientização social em praças públicas, escolas, imprensa, comércio. Menos em Baixio, pois o desestímulo e falta de alternativas ganha as mesmas proporções da infestação do mosquito Aedes Egypt . Parece que Deus está despejando sua ira sobre essa gente tão sacrificada pelas suas escolhas. Um dia parece uma eternidade na nova conjuntura política, dedicada exclusivamente à banalização dos poucos que ainda pensam ou que não perderam o direito de indignação. Nunca, nem na década de 90 quando um trem da antiga Reffsa saiu dos trilhos e matou cerca de 5 pessoas; nem mesmo durante tempos difíceis sem chuva na lavoura quando havia rumores de arrombamento e saques de estabelecimentos comerciais... Nunca se viu tanta opressão como agora. Conversando com qualquer morador desse chão é fácil encontrar em seus olhos e expressões uma súplica por socorro.
BAIXIO MERECIA SORTE MELHOR!
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